terça-feira, 26 de julho de 2011

Aos mestres, com carinho.

Tô com uma tremenda vontade de escrever sobre meus maiores mestres. E é exatamente isso que eu vou fazer, hohoho.
Só pra me afundar com gosto na sessão nostalgia, vou citar mais ou menos como foi cada um deles, como eu os conheci e uma ou outra coisa importante que aprendi.

Pode parecer clichê, mas eu simplesmente tenho que começar pelos meus pais. Foram meus primeiros mestres, né... Mas também não vou falar dos dois como se fossem uma entidade só. Distinguirei-os.


Papai Waguinho.
Meu pai é um grande homem, de verdade. Ele tem virtudes muito fortes. Respeito, caráter, decência, moral. E junta a isso a um jeito simpático e extremamente agradável de ser, reagindo à pressão com bom humor e um sorriso. Não é qualquer um que sobe na vida ao ponto que ele chegou. E ele nem fica repetindo essa história toda hora. Talvez por reflexo da ditadura, meu pai é um tanto submisso em certos aspectos. Se por um lado ele acredita em construir uma vida com sangue e suor, por outro ele se nega a inovações que escapem do que ele leva como padrão na vida. Apesar disso, ele continua me apoiando mesmo quando eu discordo tão vêemente e bato o pé contra essas convicções estagnadas. Aprendi demais com o meu pai não só pelo que ele me deu, como pelo que ele me negou.

Mamãe Jacó.
De uma família pernambucana de nove filhos, a única que saiu debaixo da asa dos pais e se aventurou por essas bandas. Minha mãe tem o gênio forte e um coração infinito. Ela largou os estudos e o trabalho pra casar com o meu pai e criar a família. Começou o artesanato depois que eu já era bem crescido, como um hobby. Hoje, poucos anos depois, tem uma loja dela, é referência e dá aulas. Ela passou a vida seguindo o que ela sentia. Diferente do meu pai, minha mãe tende a ser mais impulsiva. Se ele é cabeça, ela é coração. E os dois me passaram coisas igualmente importantes que procuro equilibrar.

Dag Lemos.
Tá aí um amigo quase 60 anos mais velho que eu. Dagoberto Lemos é um baita profissional na área de desenhos, me ensinou tudo o que eu sei sobre o assunto (por mais que a esse ponto eu já esteja bem enferrujado) e bem mais que isso. Dos 10 aos 17 anos eu estive naquele estúdio, sempre conversando com esse mestre. Conheci vários alunos que vinham e voltavam, conheci a família inteira dele, conheci sua história de vida. Começando a vida, eu via o mundo pelos olhos de um homem caminhando pro fim dela. E assim, com o Dag, eu tive a honra de aprender logo cedo o que ele levou uma vida pra entender. O valor das pequenas coisas. Não é a toa que eu posso soar como um velho quando falo com tanto orgulho que passei uma noite assistindo TV com um frango assado e uma garrafa de Tampico. Aprendi com o melhor.

Beto. O urso.
Meu pai sempre disse que é de extrema importância que eu me mantenha fazendo exercícios. Apesar de não ser nem de longe uma pessoa inclinada à violência, sempre achei esportes muito chatos e sem sal, daí pratiquei uma série de estilos de luta. Por um ano, foi ninjutsu. Sim sim, de ninjas mesmo. E o meu sensei era esse cara aí. Se eu tinha feito cinco ou mais anos de kung fu antes, nesses 12 meses de ninjutsu aprendi bem mais. O sensei pegava realmente firme com a gente. Era algo que até hoje me faz achar banal certas coisas consideradas tensas. A gente apanhava muito, muito mesmo. Mas, além de um mestre da arte do assassinato silencioso, ele também era um budista convicto. Toda aquela atmosfera nipônica de honra e disciplina misturada a um toque de segredos tenebrosos e misticismo budista deram no que pensar. A gente viu coisas estranhas, beirando o sobrenatural.
Algo que jamais esqueço que o sensei sempre repetia era dos tais tesouros escondidos por aí. É uma metáfora, claro. Se baseia na sabedoria de que você deve estar sempre atento porque, onde menos espera, está uma lição valiosa. Foi muito importante aprender isso porque a partir daí aprendi várias coisas bacanas.

Soraia, ou só Sô.
Essa mulher tomou choque no pé, cara. Ela foi pega pela ditadura, virada de cabeça pra baixo e eletrocutada. Ela trabalhou com um macaco, cara. Ela é a arte em pessoa, sempre efusiva e falando da vida como quem recita uma poesia. Um cabeçudo limitado pode achar que ela é só uma pirada, mas a Soraia é bem mais que isso. Ela é praticamente uma barda, uma trovadora ou algo do tipo. Eu conheci ela na sala de aula, quando criança. Ela dava aula de "Ética e Cidadania" pra gente. Drogas, educação sexual, preconceito, bullying, sabe? Essas coisas. Depois de anos de teatro e convívio com a Sô, já nos meus 18, eu estava entrando na favela com ela pra ensinar teatro pras crianças da creche. O que essa mulher proporcionou me cedeu parte do que eu sei de mim hoje. Ela tem força, tem voz, tem postura. A Soraia é um exemplo de vida, com certeza.


Dá pra aprender muito com qualquer pessoa desse planeta, mas algumas simplesmente acabam inspirando mais, seja de propósito ou sem querer. Na minha vida, até o momento, tive a honra e o prazer de ter conhecido verdadeiros mestres. E eu me encho de orgulho em falar de cada um deles.

É isso aí. Valeu, falou.

2 comentários:

Rafael disse...

aaah como a gente apanhava com o Beto! hauhauhuahuahuhahauhau
bota apanhar nisso

Gam disse...

Ai ai... Nada como memórias positivas (: