domingo, 19 de dezembro de 2010

Para uns, aquilo era pra chamar atenção.

Para outros, era apenas mais uma criança bagunceira. Uma mancha de chocolate no banco do carro, um chiclete grudado na carteira da escola, um desenho a giz no meio da rua... Para ele, era simplesmente uma necessidade de deixar marcas por qualquer lugar que passasse. Uma dedada no bolo de aniversário, um risco na capa do caderno de alguém. Qualquer coisa servia.

Conforme cresceu e amadureceu, apenas deixar qualquer marca não o satisfazia mais. Ele não seria lembrado. Assim como a história da árvore que cai sem ninguém ver, de nada adiantava ele deixar sinais se ninguém saberia.
Então ele começou a deixar coisas que as pessoas realmente lembrassem. Uma gorjeta um pouco maior para o garoto do semáforo, um presente melhor elaborado para o aniversariante, um sorvete para a menina bonita... E ele viu que, fazendo coisas realmente agradáveis, as pessoas se lembrariam melhor. E ele viu, para o seu espanto, que não precisava deixar sinais materiais. Acompanhar uma senhora até o seu destino, abraçar um homem doente, ouvir os problemas da menina bonita, ouvir os problemas da menina feia...
E ele era sempre lembrado por onde quer que passava.

E ele foi crescendo. E, junto com ele, cresciam seus sinais. Um carro novo para a mãe, o financiamento de uma nova ponte, a fundação de uma instituição beneficiente...
E ele também deixava marcas aparentemente pequenas, mas que para ele eram de vital importância. Jogar damas semanalmente com os idosos da praça, estacionar o carro de alguém numa vaga difícil, comprar um peixe para o aquário do sobrinho.

E ele foi ficando cada vez mais velho. Agora muito sábio, preparou-se para deixar seus últimos sinais no mundo.
Ter um filho...
Repassar o segredo de seu sucesso...

Ensiná-lo que os sinais não precisam ser materiais.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Lembra se puder...

Com muita frequência lembro dos meus sonhos. Gosto de pensar que isso duplica meu tempo de vida, já que se eu não lembrasse deles o tempo em que eu estou dormindo passaria em branco.
Muitas vezes eles são conectados, muitas vezes em um sonho eu tenho memória de outros anteriores mas não lembro do mundo real. Aliás, meus sonhos são uma grande parte de mim que eu contei com detalhes pra poucas pessoas.
Essa é uma história que alguém me contou num sonho, do jeito que consigo me lembrar agora. Enquanto ele contava, a história se passava diante dos meus olhos:



Um pai tinha um filho cego e uma filha com visão normal. Acho que o cego era mais novo, mas não tenho certeza. Ele passou por uma vasta planície laranja com eles. Tão vasta que era difícil ver o fim. Como um oceano de grama alta.
Lá, a filha perguntou:
- Pai, como você não se perde por aqui?
O que ele respondeu me escapa da memória agora, mas acredito que era importante.

Um dia, o pai precisou se separar dos filhos e ir sozinho praquela planície. Em meio a tristeza da separação, a filha perguntou:
- Pai, e se a gente precisar de você enquanto você está fora?
- Vocês são perfeitamente capazes de se virar sozinhos enquanto eu estou fora, meus filhos. Mas, se precisarem de mim, eu tenho certeza de que conseguirão me encontrar.

O pai foi embora e o tempo passou. Em determinado momento, os filhos precisaram dele. Eles saíram para procurá-lo e se depararam com a grande planície.
A filha não sabia o que fazer e sentou para chorar.
Mas o filho não. Ele puxou seu violão e começou a tocar serenamente. O tempo passava e o braço dele cansava, mas ele não parava de tocar.
- Por que você tanto toca, irmão?
- Se eu tocar bastante, a música vai chegar no nosso pai e ele nos encontrará.

A filha achou isso muito bonito, mas se encheu de tristeza. Como o seu irmão era cego, ele não sabia quão vasto era aquilo tudo. Ela tinha certeza de que o pai nunca os ouviria.
Porém, a planície era muito silenciosa.



Eu não lembro o fim da história, mas lembro que ele era feliz a seu modo. Tinha uma lição muito bonita que eu tenho certeza que aprendi, mas não consigo lembrar agora.
Esse sonho eu tive a muito tempo. Eu lembrei dele porque, agora há pouco, deitado na cama, tive um sonho de alguns segundos em que esse garoto cego tocava na planície. Quando essas coisas acontecem é melhor registrar logo porque sonhos não costumam durar muito tempo na memória recente se você não passá-los rápido pra memória a longo prazo.

Desculpem se esse post não fez muito sentido.

Canta uma canção bonita falando da vida em ré maior.

Sem o compromisso estreito de falar perfeito, coerente ou não.

Não é só bonito, como nostálgico.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sexagésimo sétimo

Eu já cheguei a comentar sobre a Mika aqui recentemente?
Estamos nos falando normalmente. Hoje ela tá namorando com um grande amigo meu e as coisas não poderiam estar mais calmas. É engraçado como o mundo dá voltas, né?

Tô postando de novo porque eu tava vendo o blog dela e me lembrei de um fato esquisito.
No tempo em que namorávamos, antes até de todas as tretas e separações (ou entre elas, não lembro), ela tava aqui em casa reclamando das fotos que eu insistia em guardar.
Eu dizia que eu gostava de ter lembranças. Que não tinha mal algum em guardar um número enorme de fotos e pá. Mas ela ficava realmente revoltada com isso. Queria que eu apagasse as fotos. Por um brevíssimo momento eu cheguei até a pensar que era eu o errado da história, imagine.

Bom, o link que segue vai explicar sozinho a que ponto eu quero chegar. Vide o último post do blog dela: http://mikamc.blogspot.com/2010/10/sexagesimo-setimo.html

Esses artitas... Vai entender!

Pequenos tesouros

Eu fazia ninjutsu. Meu sensei, um armário que já passou por um monte de coisa, disse algo interessante logo no primeiro dia de treino.
"A sabedoria está na forma de pequenos tesouros escondidos em toda a parte. Durante a vida, você tem que estar sempre atento pra não deixar esses tesouros escaparem da sua vista."
Eu já sabia disso na hora. Mas é sempre bom ouvir de uma pessoa experiente.


Semana passada eu ia voltar pra casa e comer alguma coisa rápida na frente do computador. Esse seria meu almoço, mas meus planos foram mudados.
Parei pra bater um papo com o Mateus e logo eu estaria lá sentado na calçada com ele almoçando marmita com colheres de sorvete. Com colheres de sorvete porque eu esqueceria de trazer os talheres de plástico do restaurante, pasme só.

Mas o que eu vou relatar aconteceu antes de eu decidir comprar o almoço dele.
Estávamos conversando embaixo de um sol desgraçado. Ele já alcoolizado, como o esperado. Eu resolvi comprar uma coca-cola pra cada, mas ele preferiu um suco de limão.

Quando dei o suco pro Mateus, ele agradeceu a seu modo. Foi basicamente do mesmo modo que agradece à pessoas que dão esmolas pra ele:

- Deus te abençoe!

Isso me deixa meio encurralado. Eu não me sinto a vontade quando pessoas crentes disperdiçam suas bençãos em mim, dada a minha descrença. Minha criação religiosa ainda me persegue, afinal de contas.

- Ora... Nem precisa disso. - Eu tentei me esquivar sem precisar dizer que era ateu. Essas coisas geralmente culminam em tentativas de conversão.
- Ué, mas como assim não precisa disso? - Ele falou rápido, daquele jeito de velho bêbado.
- Ah, foi pouca coisa. Não é pra tanto, né?
- Ora, mas Deus não pode abençoar por qualquer coisa?
- Bom... Sim. - É, pode mesmo. Já me ensinaram isso no fundamental.
- Ora, mas qualquer coisa e pouca coisa é a mesma coisa!

Putz, isso foi profundo. E ainda mandou um daqueles "AHÁ!" como se tivesse me pegado dessa vez. E pegou mesmo.
Pequenos tesouros escondidos em toda a parte. Quem diria?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Orientações para a prova

Sobre a segunda fase do vestibular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro:


A prova terá início às 9 (nove) horas e duração de 5 (cinco) horas. 


Não será permitida a entrada de candidato após o horário estabelecido para o início da prova; neste caso, o candidato será considerado eliminado do Vestibular Estadual 2011.

Nas salas de prova não será permitido aos candidatos portar arma de fogo, fumar, usar relógio digital ou boné de qualquer tipo, bem como utilizar corretores ortográficos líquidos ou similares.

Nas salas de prova não será permitido aos candidatos portar arma de fogo

portar arma de fogo

arma de fogo

Mas tinha que ser, ein!