domingo, 29 de março de 2009

Imagine all the people... I wonder if you can.

O muleque era famoso em todas as escolas e em todos os shoppings por bater em pessoas. Quando bem entendia, pelo motivo que quisesse, ele sabia como arranjar as melhores encrencas. E não era só escolher alguém a dedo e dar-lhe uma bifa, não. Pra brigar, ele queria que o alvo estivesse esquentado, sob pressão, no ponto. Ele provocava.

Gastava noites em claro descobrindo detalhes sobre a vida de seus alvos para então provocá-los onde dói. Um garoto como esse poderia usar suas capacidades investigativas para outras coisas, mas ele nasceu pra isso. Ele encontrava as feridas e enfiava a mão inteira nelas enquanto babava de prazer.

Haviam dois meses que ele e sua gangue pessoal estavam investigando um rapaz franzino, um tal metido a clubber. Já era normal ele descobrir casos delicados ou vergonhosos sobre suas vítimas e judiá-las de forma bestial e imortal. Seu senso de ética havia já há muito tempo ido para o lixo junto com seu primeiro taco de hockey quebrado.

Essas últimas semanas em especial o mantiveram muito ocupado, por isso ele deixou a investigação para o seu melhor amigo e braço direito.

No dia escolhido, eles estavam lá. O muleque não sabia exatamente qual era o ponto-fraco encontrado e como eles iriam aproveitar-se dele, mas estava preparado para tudo.

- É assim, Rock. Toda noite ele vem aqui com a irmãzinha paraplégica visitar o túmulo da mãe. Quando eles tiverem voltando o Bola vai dar um xaveco nela muito zuado, até ele ficar tipo, muito puto. Aí quando ele partir pra cima do Bola a gente chega e parte pra cima dele. Se precisar, a gente imprimiu essa parada aqui pra ajudar também.

O parceiro mostrou uma montagem imprimida. A imagem consistia em duas mulheres curtindo um aparentemente prazeroso sexo homossexual, exceto pela parte em que suas cabeças foram substituídas por uma menina cabisbaixa e uma senhora de meia-idade, provavelmente a mãe do jovem clubber.

Contrariando todas as expectativas, Rock pega a montagem e rasga em vários pedaços. Ele já havia feito coisas que os padres e monges mais fervorosos do mundo jamais poderiam perdoá-lo, mas isso estava muito além de seus padrões. Ele sabia que seus colegas só fizeram isso pois esperavam que ele fizesse todo o trabalho sujo.

Sob o olhar perplexo de sua gangue, Rock espuma de raiva enquanto grita em alto e bom som, chamando a atenção de qualquer possível passante por aquelas ruas atrás do cemitério.

- Vocês tem tudo é que se foder! - ele berra entre outros desaforos - Eu não vou bater nesse cara nem fodendo, e ninguém aqui vai também. Se quiserem, podem vir pro pau porra!

Sem pensar duas vezes, Rock saca seu soco inglês e parte pra cima de seus outrora amigos que se provaram absolutamente nojentos de uma hora para outra. Apesar do sangue frio e talento do garoto, a desvantagem numérica fez com o que ele tomasse a maior surra de sua vida, além de sua primeira derrota.

Foram dois policiais que pararam a briga.
Após levarem a gangue inteira para a delegacia e ouvirem todos os depoimentos, sobrou para o delegado resolver o destino dos garotos. Em cidade pequena ele costuma dar a palavra final para quase todos esses assuntos.

O delegado manda ligarem para os pais de todos eles e direcioná-los ao conselho tutelar, com exceção do maior. O Rock.

- Mas delegado! - diz um corretíssimo pai de família que coincidentemente se encontrava no local - O garoto está tão errado quanto todos os outros. Ele se encontrava em meio a calcatrua e deve ser penalizado assim como eles.

- Você diga o que quiser, meu caro. Mas eu não vou penalizar este garoto por lutar pelo que é certo.

De fato, ele não o fez. Posteriormente o delegado leva o garoto para a casa de uma conhecida aposentada que já foi enfermeira e manda cuidar-lhe. Uma lição de moral, uma carona pra casa e Sebastião, o delegado, jamais verá o garoto de novo.

- Eu levo o caso a justiça, delegado! - o homem já estava indignado.
- Leve então.

Ele tentou.
Carlos, pai de dois filhos, um menino e uma menina, casado com uma linda e corretíssima mulher administradora, é um homem de muito sucesso profissional e cheio de boas intenções. Da sua casa no bairro mais nobre da cidade ele manda e-mails para a redação de diversos jornais protestando contra o terrível sistema judiciário que não funciona, a fome mundial e o descaso de tantos. Semanalmente ele viaja terríveis dez quilômetros de ruas populares esburacadas para reciclar o lixo de sua residência e, de quebra, deixar um bolo para a Entidade de Crianças Aleijadas da qual se apadrinhou. Mas, apesar de tão bem informado e vivido, ele jamais levou qualquer caso a lugar nenhum, quanto mais a justiça.

Após visitar vários sites informativos e fazer alguns telefonemas, ele finalmente encontrou um advogado renomado que poderia cuidar do caso a um preço justo e eficiência garantida. Aliás, Carlos ofereceu pagar o triplo do preço a Agência de Direito para ver a justiça sendo feita.

Mas, após as devidas apurações e coletas pessoais de informação, Tobias não aceitou o caso.

- Você vai me desculpar, senhor Carlos, mas eu me recuso a levar uma ação contra o homem que defendeu o garoto que lutou pelo que achou certo. Isso vai contra meus princípios pessoais e eu espero mesmo que o senhor não se sinta ofendido pela minha recusa.
- Mas é claro que eu fiquei ofendido! Aceitar o caso não é uma obrigação dessa tal Agência que você trabalha?
- É sim senhor, mas isso não me importa no momento.
- Eu vou falar com o seu chefe, rapaz. Seu emprego já era.

Homem prevenido que é, Tobias imediatamente picotou e jogou fora todos os documentos referentes ao caso. Ele esperava que isso silencia-se o problema.

Com efeito, Carlos procurou o chefe da Agência de Direito. Não conseguiu falar diretamente com ele, mas encaminhou o caso para sua secretária, que prometeu cuidar do assunto.
Mas a verdade é que assuntos como esse nem chegam ao ouvido do chefe. Numa Agência tão grande os problemas diários são tantos que cada tipo de reclamação já é pré-direcionada a um tipo de resolução. Nesse caso, um administrador específico seria mandado para averiguar o problema e, provavelmente, cuidar da demissão do advogado acusado. Aconteça o que acontecer, é importante manter o nome da Agência limpo.

Rosane é casada com um homem rico, bem-sucedido e cheio de boas intenções. Ela possui dois filhos, mora no bairro mais nobre da cidade e não precisa passar semanalmente por ruas populares esburacadas para entregar bolo por aí, pois seu marido já faz isso por ela.

Por outro lado, Rosane tem seus princípios.
Ao entender toda a situação e somar a isso a aficção clara de seu cônjuge para com uma coisa tão tola, sua personalidade feminina englobou-a numa revolta absoluta. Revolta essa que resultou no insensato ato de entrar batendo o pé no escritório do chefe gritando:

- Eu não vou demitir esse homem! As ações dele vão totalmente contra os valores da Agência e o protocolo é claríssimo requisitando sua demissão, mas eu me recuso terminantemente a ser esse carrasco. Ele fez o que achou correto, e eu vou seguir esse exemplo. Me processe se quiser!

O chefe estava pouco se lixando pra tudo isso, mas sua rápida ascensão profissional o tornou uma pessoa arrogante e, como toda pessoa arrogante, ele se encheu de caprichos. Um desses caprichos era a total indisposição a tratar bem pessoas que entram batendo o pé em seu escritório.
Tobias e Rosane foram demitidos e um processo foi aberto. Contra ele, não ela. A câmera de segurança dos corretores capturou o momento em que Carlos picotava documentos de propriedade total da Agência.

- Ordem no tribunal! - gritava o juíz.

Hoje o lugar estava cheio. Dentre os presentes estavam Rosane, seus dois filhos, Sebastião, Rock, Tobias, dois policiais, uma enfermeira aposentada, monges, padres, o chefe e vários outros que ficaram sabendo da história e resolveram comparecer. Só Carlos não havia aparecido ainda, mas o júri resolveu parar de esperá-lo e começar logo.

- Tobias, você está sendo acusado e julgado pelo seu chefe por apropriação e despejo ilegal de propriedade exclusiva da companhia Agência de Direito. Está ciente disso?
- Sim, Meretíssimo.
- Me foi informado também que tudo começou devido a uma briga de rua entre garotos que terminou num julgamento mal-finalizado, uma tentativa de ação judicial negada e uma demissão não executada. É verdade?
- Sim, é tudo verdade. Se me permite, Meretíssimo, gostaria de incrementar também que tudo o que acaba de ser citado começou devido ao bom senso de um garoto ao recusar-se a insultar mortos e crianças.
- É, tô sabendo.

O juíz dá a permissão ao advogado do chefe, que imediatamente bombardeia Tobias com uma série de perguntas aparentemente infundadas, jogos psicológicos e confusões acometidas.
Ao término da bateria de interrogações, o juíz parece estar pensando em como proceder.

- Eu não posso condenar esse homem. Desculpem, mas vai contra os meus princípios. Podem me julgar se quiser, mas isso eu não faço. - ele diz isso tirando a peruca branca ridícula da cabeça e saindo de seu posto.

Subitamente, a porta se abre com um estrondo. Os policiais apontam armas para aquela direção, mas não atiram devido ao grande perigo que se apresentou.
Carlos está posicionado no meio do hall externo com um lança-mísseis sobre o ombro. Seu olhar é vidrado e lacrimejante. Suas mãos tremem e sua voz é falha.

- Eu sabia que isso ia acontecer! Eu sabia! Vocês são todos uns frouxos! Tudo o que eu queria era um mundo que funcionasse. Eu lutei por um lugar em que a justiça é cumprida a risca e essa coisa de opinião pessoal nunca valeria de nada. Mas não, vocês simplesmente não são capazes de seguir um pouco de ordem!
- Acalme-se, Carlos. - diz um monge budista que está presente - Não deixe a cólera dominá-lo. Libere suas tensões e sinta a energia fluir.
- Fluir é o caralho! Eu vou matar todo mundo!

Um silêncio pesado domina a todos os presentes. Pressionando um gatilho, Carlos mandará tudo para o ar, incluindo a si mesmo. Passam-se alguns segundos em que as pessoas se perguntam por que ele ainda não atirou e por que ainda estão vivas, mas ninguém tem coragem de falar nada.
Trêmulo, quem fala é Carlos.

- Eu... não... consigo.

E ele cai de joelhos no chão.

- Eu não consigo atirar. Eu não me sinto bem atentando contra essas pessoas que só quiseram fazer o bem. Me desculpem! - ele diz chorando.

Nenhum guarda quis prendê-lo. Todo mundo tem um acesso de raiva as vezes e merece uma segunda chance, eles disseram.

Ninguém percebeu a tempo, mas o mundo inteiro passava por processos semelhantes. Políticos paravam de roubar, sequestradores liberavam suas vítimas, agentes secretos jogavam fora suas pílulas suicídas, espiões empresariais se desculpavam publicamente. De repente, cada cidadão do planeta foi tomado por uma onda de bom senso. Cada um a seu tempo.

Isso acabou com o modo de vida conhecido. O mundo foi acometido por uma nova crise econômica mundial, dessa vez alcançando patamares incalculáveis e irreparáveis. O sistema não estava preparado pra isso. Era o fim de uma era.

Os únicos que se sobressaíram bem diante dessa grande crise foram as pessoas que verdadeiramente trabalhavam em prol de ajudar o próximo sem qualquer fim lucrativo. A ECA, Entidades de Crianças Aleijadas, cresceu e se tornou uma gigantesca organização que dividia em harmonia o espaço com vários outros grupos e fazia bolos de semana em semana.

No fim das contas quem se deu melhor com o novo cenário mundial foi uma pequena garota aleijada órfã, irmã de um clubber meio bobo.
E todo mundo ficou satisfeito com isso.

sexta-feira, 27 de março de 2009

The horizon has been defeated by the pirates of the new age...

Não desisti da história, muito menos do blog! Nem vice-versa.

O que acontece é que esse negócio de terceiro ano realmente é tão corrido quanto diziam. Quem diria, né? Eu juro que nunca acreditei muito nisso até acontecer comigo.
Eu tenho muitas idéias pra minha história que vão desde atentados terroristas a revelações abssais.
Mas prioridades são prioridades! Eu só vou continuar a escrever quando tiver colocado toda a matéria atrasada em dia. O que é engraçado, já que quanto mais eu estudo mais aqueles lazarentos passam de conteúdo. Mas uma hora eu estabilizo, vocês vão ver.


Hoje eu só vim postar mesmo porque não tô dormindo. Mas minhas pálpebras estão meio sólidas e meu cérebro está meio ionizado, então não rola estudar. Por isso resolvi postar.
Postar sobre coisas da vida como um todo, mas basicamente sobre algumas coisas que me deram vontade de escrever mas não deu por falta de tempo...
Aliás, eu não tenho tido muito tempo sobrando pra ficar sem fazer nada ultimamente.

Aliás, aqui vai uma mensagem pra Mika caso ela tenha tido uma reflexão paranóica. Caso você não seja a Mika ou seja ela e não tenha tido uma reflexão paranóica lendo até aqui, não precisa passar o mouse pra ver a mensagem.
<Mika, eu sei que você vai ler isso e pensar que você engole meu tempo livre de Domingo, mas isso não é verdade. Eu não conseguiria imaginar um jeito melhor de gastá-lo.>











Agora vamos ao que interessa. Eu sei que sou novo e inexperiente sobre esse negócio de vida, mas me ocorreu que eu já aprendi uma pá de lições valiosas. Talvez alguma esteja errada ou mal-interpretada por mim, ou talvez má-interpretação de lições de vida não existam. Afinal, ninguém nunca vai ter uma vida igual a minha pra saber se o que eu aprendi pode ou não pode ser útil pra mim.
Comecei bem, né? Parece aqueles malditos e-mails de auto-ajuda feminista em Power Point.

Depois, eu também aprendi a entender boa parte das pessoas. Com as poucas (poucas em relação a uma vida inteira) experiências e conversas que eu já tive, já deu pra aprender o fundamento de vários pontos-de-vista diferentes sobre o mundo, a vida e suas sub-categorias em geral. Sério, isso é como ver uma pessoa e entender mais ou menos qual é o motor e o objetivo dela e porque ela pensa assim. Parece coisa de mané metido a psicólogo, mas eu sei que você sabe que faz sentido. Seja lá quem for você.
Mas pra isso você tem que ter a mente aberta. Quando você está usando seus próprios parâmetros pra analisar os parâmetros dos outros, você já começa deturpando-os. Ter a mente aberta é saber entender do zero. Ou algo do tipo, né...

Até aí tudo bem. Eu comecei no óbvio e parti pro mais exclusivo.
Mas é verdade que eu aprendi coisas que assustariam um idealizador. Sabe, como se você chegasse pra ele e dissesse que Papai Noel não existe.

Tipo, quando tem muita gente as coisas não funcionam direito. Isso é fato concreto. Ponto. Não importa o sistema, não importa o tipo de gente. Eu já suspeitava disso, mas hoje um cara de cabelo branco fundador de uma das melhores universidades do país me disse pessoalmente e eu tomei como oficial.
Isso explica porque todo governo é uma desgraça (alguns mais que outros, mas nenhum deixa de ser) e porque o poder tem que ficar na mão de poucos, e não de todo mundo.
A partir disso, presume-se que a anarquia está fadada ao fracasso.

Um professor de História carioca já me mostrou que mulheres não amam. Chocante, né? Mulheres simplesmente não amam. Elas não tem essa capacidade. O que elas sentem é o desejo de serem amadas pelo cara escolhido, o que é totalmente diferente.
Isso, moças. Vocês não fazem idéia do que é o sentimento que contam os livros nem nunca vão saber. E se foi uma mulher quem escreveu pior ainda, porque tá tudo deturpado.

A partir disso e das poucas experiências que eu tive com mulheres e da atual com a minha absolutamente formidável namorada eu notei algumas outras coisas sobre relacionamentos também...
Pra começar, o homem quando ama acaba colocando a mulher como prioridade na vida dele. Por mais exagerado que possa parecer ou que ele saiba que é, não deixa de ser. Mesmo que ele controle isso lembrando-se da realidade o tempo todo, sentimentos não são regidos por pensamentos. Pelo menos eu acho que não.
Homens amam por necessidade, mulheres 'amam' por conforto. Parece triste de cara, mas se você for ver sempre foi assim e sempre vai continuar sendo. Mesmo que você não acredite que mulheres não amam, elas vão continuar "amando" dentro da sua concepção do mesmo jeito que antes. Deu pra sacar o ponto? O mundo é o mesmo, o que muda é a nossa concepção dele.

E isso remete a outra coisa interessante. O mundo, tratando-o como um ser vivo pra variar, tá pouco se fodendo pro que você pensa ou deixa de pensar. O que o pensamento muda é só o seu modo de encarar as coisas.
Deixa eu pegar um exemplo prático e radical, porque exemplos práticos e radicais são os melhores:
O verde vai continuar verde. Não importa se você chama de azul ou vermelho. Aliás, mesmo que o nome oficial dele mude de verde pra qualquer outra coisa, a cor vai continuar sendo a mesma.
Por isso a maioria dos daltônicos morrem sem saber que eram daltônicos. Sabia que mais de trinta por cento da população mundial é daltônica? Pode ser eu ou você. Talvez vermelho não combine tanto assim com preto, quem sabe?
Claro que pensar é muito útil. Mas só quando sai do âmbito do pensamento e vai pras ações. Não adianta nada saber o motivo da crise econômica se isso não ajudar nem um pouco na resolução dela, entende? As coisas só mudam quando você mexe nelas.

A partir disso você percebe que é tudo uma grande concepção do óbvio, só que mais aprofundada. Talvez tudo seja mesmo obviamente simples, mas algumas pessoas compliquem e acabem fodendo geral...
Por isso é sempre bom você não tratar ninguém como o dono da verdade absoluta, por mais que ele tenha convicção de que é. Não tô dizendo que as pessoas mentem por maldade. Tô dizendo que elas podem não saber a verdade verdadeira, até porque quem ensinou pra elas também podia não saber.
Você só pode tomar aquilo como verdade quando você vê na prática, acontecendo. E aí você leva isso como fato com você até que apareça algo que contradiza o que você aprendeu. Ou seja, é necessário estar pronto pra ver a verdade mudando completamente a qualquer momento.

E algumas coisas você só aprende na raça mesmo. Não importa o quanto te dizem nem o quanto você confie nas pessoas que disseram, você simplesmente não consegue engolir. Tô certo ou não tô?
E isso varia de pessoa pra pessoa. Depende da quantidade de informações e convicções que você tem antes de receber essas lições verbais e da quantidade antes de aprender no pau, na raça. Mais ou menos assim... O que eu tô dizendo é que quem acredita em Deus sem ver milagre é porque ou já viu algo que considerou milagroso ou quer acreditar porque a vida seria pior se não acreditasse.
Não tô desmerecendo religião nenhuma com isso. Esse negócio de ver milagre é sério. Ainda tem muitas coisas que ninguém consegue explicar. Ainda tem muitas coisas que, por mais que expliquem, são simplesmente coincidentes demais e bonitas demais pra fazer sentido.
Não se pode levar uma velhinha aposentada na brincadeira quando ela diz que o pôr-do-sol é um milagre de Deus. Tem gente que se contenta no fato de ser uma bola girando em volta da outra (translação, rotação...). Mas tem gente que acha isso bonito demais pra ser só isso. Gente que não se contenta.
Não tô dizendo que eu considero a vida um grande milagre. Mas seja o que for, eu gosto dela. Eu acredito em sorte, acredito em aleatoriedade, caos e coincidências. Mas nada disso impede de achar algumas coisas simplesmente coincidentes demais.
Mas se você for ver... Num mundo de fatos randômicos, é totalmente viável o evento randômico de coisas bonitas acontecendo.

Mas agora eu já tô partindo muito pra opinião pessoal e saindo do que eu considero fato.
Fato: Velhos são o tesouro da humanidade.
Não importa o tipo de velho, onde, como, quando ele viveu. Não importa se ele morou numa caixa a vida inteira. Ele(a) com certeza aprendeu uma pá de coisas simplesmente inestimáveis.
Digo isso porque eu só tenho dezesseis anos e já considero ter aprendido um monte de coisa pra vida inteira, então imagino alguém com cinco vezes mais que isso. Lembrando que dos meus dezesseis, oito foram aprendendo o básico.
Não digo que o que eles dizem é a mais pura verdade só porque eles são velhos. Mas digo que, seja lá o que eles aprenderam, dá pra tirar algo importante dali. Digo que se eles repetem a mesma história o tempo inteiro, é porque eles por algum motivo acham ela importante. E se os parâmetros deles foram se afiando dia após o outro até aquela idade, o sentido de importância que eles dão é provavelmente melhor que o de qualquer outro adulto.
E digo mais. Se eles só falarem sobre coisas fúteis o tempo inteiro, é porque elas com certeza não são tão fúteis assim.

Eu levo mais a sério um velhinho de chinelo meio caduca do que um empresário renomado nos seus vinte, trinta anos. Lembrando sempre de não tratar nenhum dos dois como o dono da verdade absoluta, claro. Naquele esquema...
Mas acho que eu disse isso mais porque ele tá de chinelo do que pelo fato de ele ser velho.

Um chinelo faz muita diferença, sabe. A aceitação do jeca.
Eu vou de chinelo pra escola, deixo ele embaixo da minha carteira e saio andando por aí descalço nos intervalos. Ninguém nunca encrencou com isso, mas talvez alguém pense que é pra fazer charme ou chamar atenção. (como se meus pés fossem lindos)
Mas não é por isso. É que pisar no chão é importante também. Constatar o óbvio. Perceber que seus pés foram feitos pra isso.
Não, eu ainda não virei hippie! E não vou pegar doença. Chão que dá doença é outro. Escola de rico não é pra dar não.

Só que deixar de ser materialista as vezes é muito bom. Tipo, muito bom mesmo. Não tem nada a ver com riqueza de espírito ou preservação ambiental. É que carregar menos coisas significa ter menos preocupações. E agora eu não tô falando de andar calçado ou não. Tô falando das tralhas que se compra com o dinheiro que poderia ser gasto em coisa menos inútil, como uma rede. Ou uma viagem...

Aliás, deu pra entender a importância de se deitar numa rede?
Você deita lá e a Terra continua rodando sem nem ligar pra você. E aí não é preciso se preocupar com tudo isso, pensar nessas constatações do óbvio, das pessoas, do mundo, da vida, das sub-categorias, das coisas não tão óbvias assim, do vestibular, do futuro profissional e toda aquela lenga-lenga... Você pode balançar um pouco se estiver cansado de ficar parado. E parar de balançar se começar a ficar enjoado. E virar de lado quando enjoar daquela posição ou se cobrir com ela quando estiver com frio. São utilidades demais pra uma rede só.

E o mais legal nem é isso.


O mais legal é que na rede cabem dois.