terça-feira, 16 de novembro de 2010

192

Um velho sulista negro com uma barba digna de um capitão pirata e um chapéu vaqueiro de couro. As mãos dele são mais duras que a sola do meu pé (que não deixa a desejar nesse quesito) e ele tem as duas pernas fodidas, por isso precisa de cadeira-de-rodas. Com um punhado de dentes faltando e uma bocarra gigantesca quando abre, a risada dele é absolutamente contagiante. Parou de beber há duas semanas e isso sem dúvida fez diferença no seu hálito.
Esse é o Mateus. Eu não sei se ele tem casa ou não, mas ele costuma ficar perto de uma barraca de frutas do lado de onde eu estudo. Sempre que eu passo e ele tá lá, paro pra bater um papo com o cara.

Outro dia ele tava meio desanimado, disse que tava com alguma coisa doendo na barriga. Falou que tinha ligado pro SAMU vir buscá-lo, mas eles não vieram. Disse que ia juntar uma grana pra pegar alguns ônibus com acesso especial e ia sozinho pro hospital. Eu falei que não e liguei pro SAMU do meu celular, dando uma apressada neles.
Disseram que não vieram antes porque todas as unidades tavam ocupadas, mas que já estavam a caminho.

Isso já faz quase uma semana. Não vejo o Mateus desde então.
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