domingo, 19 de dezembro de 2010

Para uns, aquilo era pra chamar atenção.

Para outros, era apenas mais uma criança bagunceira. Uma mancha de chocolate no banco do carro, um chiclete grudado na carteira da escola, um desenho a giz no meio da rua... Para ele, era simplesmente uma necessidade de deixar marcas por qualquer lugar que passasse. Uma dedada no bolo de aniversário, um risco na capa do caderno de alguém. Qualquer coisa servia.

Conforme cresceu e amadureceu, apenas deixar qualquer marca não o satisfazia mais. Ele não seria lembrado. Assim como a história da árvore que cai sem ninguém ver, de nada adiantava ele deixar sinais se ninguém saberia.
Então ele começou a deixar coisas que as pessoas realmente lembrassem. Uma gorjeta um pouco maior para o garoto do semáforo, um presente melhor elaborado para o aniversariante, um sorvete para a menina bonita... E ele viu que, fazendo coisas realmente agradáveis, as pessoas se lembrariam melhor. E ele viu, para o seu espanto, que não precisava deixar sinais materiais. Acompanhar uma senhora até o seu destino, abraçar um homem doente, ouvir os problemas da menina bonita, ouvir os problemas da menina feia...
E ele era sempre lembrado por onde quer que passava.

E ele foi crescendo. E, junto com ele, cresciam seus sinais. Um carro novo para a mãe, o financiamento de uma nova ponte, a fundação de uma instituição beneficiente...
E ele também deixava marcas aparentemente pequenas, mas que para ele eram de vital importância. Jogar damas semanalmente com os idosos da praça, estacionar o carro de alguém numa vaga difícil, comprar um peixe para o aquário do sobrinho.

E ele foi ficando cada vez mais velho. Agora muito sábio, preparou-se para deixar seus últimos sinais no mundo.
Ter um filho...
Repassar o segredo de seu sucesso...

Ensiná-lo que os sinais não precisam ser materiais.